O “Banquinho de 3 Pés” da Obesidade: Entenda o Tratamento Multidisciplinar

Este texto é fruto de uma conversa enriquecedora com a Dra. Iara Alves Coelho Sganzella, realizada durante mais uma edição do nosso Café com Especialista — uma iniciativa da Clínica Blumei que promove o encontro entre profissionais de diferentes áreas para discutir temas relevantes sobre saúde mental e bem-estar.

Dra. Iara é médica cirurgiã, especialista em cirurgia bariátrica, cirurgia do aparelho digestivo e cirurgia geral. Atua em Marília e é chefe do serviço de cirurgia bariátrica e preceptora da residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA).

Nesta edição, o tema central foi a obesidade — uma doença crônica, multifatorial, de difícil controle e com alta taxa de recidiva. Isso significa que não existe uma cura definitiva, mas sim a necessidade de um cuidado contínuo e equilibrado. Para ilustrar a complexidade do tratamento, utilizamos uma analogia simples, mas poderosa: o “banquinho de 3 pés”.

O Banquinho de 3 Pés da Obesidade

Imagine que o tratamento da obesidade se apoia em um banquinho de três pés. Quando esses três pés estão firmes e equilibrados, o banquinho se mantém estável. No entanto, se um deles estiver mais curto, torto ou frágil, todo o sistema se desequilibra. O mesmo acontece com o tratamento da obesidade.

Pé 1: A Parte Orgânica

Este é o campo da atuação médica. Inclui o uso de medicações, acompanhamento endocrinológico e, em alguns casos, a cirurgia bariátrica.

É importante compreender que o corpo, muitas vezes, “resiste” à perda de peso. Esse mecanismo biológico de defesa — como o conhecido efeito sanfona — faz parte de um instinto de preservação da espécie. O tratamento médico tem papel essencial para atenuar essa resposta orgânica, mas ele, por si só, não é suficiente.

Pé 2: Mudança de Estilo de Vida

Esse pilar diz respeito à alimentação equilibrada e à prática regular de atividade física. A lógica é conhecida: para perder peso, é necessário gastar mais calorias do que se consome.

Contudo, implementar e manter essas mudanças não é simples. Requer planejamento, consistência e, sobretudo, realismo. Não se trata de eliminar todos os alimentos prazerosos de uma vez, mas de fazer escolhas conscientes, sustentáveis e adaptadas à rotina da pessoa.

Pé 3: Saúde Mental

Esse é, com frequência, o primeiro pé a enfraquecer. Situações emocionais como estresse, frustração, ansiedade ou tristeza podem levar à busca de conforto na comida — especialmente em alimentos ultrapalatáveis como doces e frituras.

Como reforçou Dra. Iara durante o encontro: “Cabeça ruim, o corpo padece”. Existe uma conexão direta entre saúde emocional e funcionamento do corpo, incluindo o metabolismo e o trato digestivo. O apoio psicológico e psiquiátrico é, portanto, fundamental: seja para desenvolver estratégias de enfrentamento, seja para manejar sintomas que dificultam a adesão ao tratamento.

A Importância do Equilíbrio

O sucesso no tratamento da obesidade depende do fortalecimento e da harmonia entre esses três pilares.

Se a saúde mental está comprometida, manter uma rotina alimentar e de exercícios se torna um desafio. Se o estilo de vida saudável é abandonado, o tratamento medicamentoso ou cirúrgico perde sustentação. E, da mesma forma, se há resistência em buscar ajuda médica, os resultados ficam limitados.

Diante disso, a prioridade não deve ser a busca por soluções rápidas para reverter atrasos que uma recaída pode gerar no seu emagrecimento, mas sim uma análise para reavaliar as estratégias e ajustar as expectativas.

Lembre-se: a obesidade é uma condição crônica que entra em remissão, mas não possui uma cura definitiva. Isso exige um cuidado contínuo, atenção aos sinais do corpo e da mente e, sobretudo, um olhar compassivo e realista sobre a própria jornada, entendendo que oscilações podem ser esperadas e manejadas.


Durante a conversa com a Dra. Iara, também discutimos outros aspectos fundamentais do tratamento da obesidade, incluindo os desafios da fase inicial da dieta pós bariátrica, o fenômeno da “abstinência alimentar”, o modo como o corpo resiste à perda de peso e o impacto da frustração e do julgamento externo no processo de emagrecimento.

Essas reflexões serão tema de futuras publicações aqui no blog. Fique atento aos próximos conteúdos dessa série especial do Café com Especialista!

Artigo escrito pela Equipe Blumei a partir da conversa durante o Café com Especialista, uma iniciativa da Clínica Blumei.

Revisado por Dra. Iara Alves Coelho Sganzella (CRM/SP 134.931 | RQE Cirurgia do Aparelho Digestivo 50.833 | RQE Cirurgia Geral 36.409), médica cirurgiã especialista em cirurgia bariátrica, cirurgia do aparelho digestivo e cirurgia geral. Chefe do serviço de cirurgia bariátrica e preceptora da residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo da FAMEMA. Atende em consultório particular na Rua Carlos Botelho, 246, Marília-SP.

Perguntas Frequentes

O que é a analogia do “banquinho de 3 pés” no tratamento da obesidade?

A analogia do “banquinho de 3 pés” é uma forma de ilustrar que o tratamento eficaz da obesidade se sustenta em três pilares interdependentes e igualmente importantes: 1) a parte orgânica (cuidados médicos, incluindo medicações e, se necessário, cirurgia), 2) a mudança de estilo de vida (alimentação saudável e atividade física regular) e 3) a saúde mental (manejo de aspectos emocionais e comportamentais). Se um desses “pés” estiver fraco ou ausente, o “banquinho” (tratamento) fica instável e o sucesso a longo prazo é comprometido.

Quais são os três “pés” do tratamento da obesidade?

Os três “pés” essenciais para o tratamento da obesidade são:

  1. Parte Orgânica: Compreende as intervenções médicas diretas, como acompanhamento endocrinológico, uso de medicamentos para controle do peso e tratamento de comorbidades, e, em casos específicos, a cirurgia bariátrica.
  2. Mudança de Estilo de Vida: Envolve a adoção e manutenção de hábitos saudáveis, como uma dieta equilibrada e personalizada, e a prática regular de exercícios físicos, fundamentais para o balanço calórico e a saúde geral.
  3. Saúde Mental: Aborda os aspectos psicológicos e emocionais, como o manejo do estresse, ansiedade, depressão, compulsão alimentar e a relação com a comida. O suporte psicológico e/ou psiquiátrico é vital para a adesão e sustentabilidade do tratamento.

Por que a saúde mental é considerada um pilar essencial no tratamento da obesidade?

A saúde mental é um pilar essencial porque fatores emocionais e psicológicos têm um impacto significativo no comportamento alimentar e na capacidade de aderir a um plano de tratamento. Estresse, ansiedade, depressão e transtornos alimentares podem levar ao consumo excessivo de alimentos (especialmente os hiperpalatáveis) como forma de lidar com emoções difíceis. Além disso, a obesidade pode afetar a autoestima e a imagem corporal, gerando um ciclo vicioso. O acompanhamento da saúde mental ajuda a desenvolver estratégias de enfrentamento saudáveis, melhorar a relação com a comida, fortalecer a motivação e lidar com os desafios emocionais do processo de emagrecimento, tornando o tratamento mais eficaz e sustentável.